09/07/2012

De minhas discordâncias

Para Aurélio – frio que é – uma palavra é só uma palavra, com suas acepções e derivações, sinônimos e antônimos. Mas não para mim. Para mim, muitas vezes, elas tem o significado que o meu coração dá. Assim que nessas vezes, me reservo o direito de discordar terminantemente dele. Certa feita foi o caso de “dizer a verdade / ser sincero”, hoje é o caso de “lealdade / fidelidade”. Segundo ele o fiel e o leal entram no mesmo balaio. Não acho.

Sempre tive para mim que a lealdade é maior, mais integra, mais importante. É valor. É vínculo. Não exige acordos. É caráter. Veracidade. Honradez. Consideração. Respeito.

E que a fidelidade é externa, simplista. Dever moral. Acordo. Compromisso feito de regras e costumes.

Alguém pode sim ter sido desleal sem nunca ter sido infiel, basta que não tenha sido honesto mas que tampouco tenha violado algum acordo.  E o inverso também acontece. Se aplica a qualquer tipo de relacionamento, seja amoroso, de amizade, familiar, de trabalho e até mesmo o intrapessoal (pois é, tem gente que consegue ser infiel ou desleal até consigo mesmo).

O fiel é fiel porque cumpre um compromisso, ainda que tácito. É como uma obrigação.  É estar.

O leal é leal porque respeita outro ser sem se sentir obrigado a isso. É preferência. É ser.

Para ser fiel é preciso apenas disciplina. Para ser leal é preciso ter caráter. 

A linha que separa um do outro pode parecer tênue para alguns e para outros pode nem existir, mas a vejo ululante. Talvez o ponto de corte entre um infiel e um desleal seja o modus pensandi e porque não, o operandi também. Seriam como A Culpa e O Dolo.

O infiel pode circunstancia e eventualmente enganar outra pessoa. Não  teve a intenção, mas fez. Não há habitualidade, foi oportunista. Não cumpriu o acordo. Mas ainda que com um ato mau, há empatia com o outro. Ele feriu. É culpa.

O desleal não. É torpe, faz de propósito, sabendo exatamente o que faz, monta estratégias, manipula situações e pessoas. Para o desleal ninguém importa mais do que ele próprio. Ele não é circunstancial, ele cultiva o engano. Tira proveito da confiança, dos sentimentos, é traiçoeiro, egoísta. Ele cria. Te rouba em seu direito de decisão. Ele fere. É dolo.

O infiel tem a culpa nos olhos. O desleal um sorriso nos lábios.

Todos estão sujeitos a serem infiéis em algum momento, existem N variáveis que podem levar alguém a isso e outras questões mais complexas e subjetivas, mas somente os mau-caráter são desleais.

Ambos causam estragos, mas só o desleal destrói. Quando os relacionamentos se quebram definitivamente, desacredito que seja por falta de fidelidade. O que realmente destrói  relações  é a falta de lealdade.

Quiçá seja por ser algo tão meu, talvez eu ainda não consiga deixar essa diferença muito clara quando a mando para fora de mim, embora há muito pense em como fazer. São conceitos muito pessoais, que dependem do que cada um estabeleceu para si. É certo que fidelidade tem muito mais apelo em nossa cultura, principalmente se falando em relacionamentos amorosos, mas embora a teoria seja muito bonita, me soa um pouco hipócrita. Quem precisa de fidelidade é companhia aérea. Dou preferência à lealdade.